quinta-feira, 27 de agosto de 2009

de quem?




rasgo o dia
nas frases postas
na língua
sob o céu da boca.
bebo
o vinagre acre
das lágrimas escorridas
pelo rosto.
nas chuvas de agosto
costuro os olhos
na parede escura
das pálpebras
saudosas de alguém.
alimento a noite
nos sonhos
de sempre.
escrevo poesias
na face vermelha
pelo choro
na ausência.
de quem?

antes e agora


antes.
o tempo.
era maior.
com dias claros.
noites cinzas.
sonâmbulas.
nas soleiras.
dos olhos.
agora.
um não sei.
dos dedos.
aponta na pele.
o desejo suspenso.
no tempo medido.
de saudades.
antes.
o espaço.
era aconchegante.
repleto de querer.
e fantasias.
segredos.
e felicidades.
agora.
solidão.
e desespero.
e uma multidão.
de sentimentos.
invade.
o caos.
do coração.
antes.
era eu.
e você.
agora.
só resta
o medo.
de acordar.
e sofrer.
a falta.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Michele, cadê você?


Este sentimento
me condena
diz o que não fiz
e sigo no seu encalço
Este frio de ti
é vazio de mim
Este momento
entrega o cansaço
A falta de carinho
sem nenhum embaraço
Este caminho deserto
Percorro sozinho
Na distancia
dos teus abraços
Este vento
de cada dia
Desmancha
na areia
As marcas
dos pés descalços...
Michele, cadê você?

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

ipê amarelo




O vento segue

na ponta dos dedos,

e da língua

com o beijo no rosto

com a companhia do sol

ele vai veloz

e refrescante
pela capital federal

dizer o quanto te amo

pelas praças

fazendo florescer

o ipê amarelo

dobrando de prazer

os olhos

fazendo assobiar

os pensamentos

as letras sussurradas

no ouvido

amante discreta do dia

gemendo baixo

vamos nos entregando

ao belo

este amor nos une

esta paixão consome

quem tão distante parece

solidão do dia



cabelos ao vento
tranças o silencio
ao sabor do tempo
nas poeiras da memória.
me amas ainda?
o medo esfumaça
olhos cinzas
e o corpo invadido
por ondas de arrepios
desmancha no tapete
a solidão do dia.
a lua ilumina a angustia
lábios trémulos de saudades
lágrimas inundam as rugas
de uma dor imensa.
te amo ainda!!!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

amanhecer




oh abajur...
acalma
esta claridade
opaca
sem brilho.
bem devagar,
meus dedos
descem lentamente
pelo seu ventre
e amanhece em ti.
emolduro
nas folhas
de primavera
nossos segredos.
escondo
nas almofadas
nossos sonhos.
fica comigo
depois
de nascido
o dia.

sem limites

derramo beijos
pelo seu corpo
onde liberto
sensações únicas
de sair de mim
sem limites
para me deter.
às vezes
esbarro comigo
querendo saber
até onde
isso me leva.
se encontro
alguma fronteira
não desisto.
não sou
tão racional
suficiente
não sou indiferente
quando me sentes.
e vou querendo
ir mais longe.
você se deixa ir
não sem mim.
você e eu.
...estrelas sorrateiras
brilham no infinito
que somos.

letras libertas

cor?
não sei a descrição
...está azul.
você já passou
suspirou,
sentiu,
bebeu,
pousou,
pisou...
noutros tempos
as areias brancas.
frases nuas
desejo cru
letras libertas
no canteiro
dos olhos.
o cheiro
de terra molhada
invade a primavera
de setembro
num misto
de saudades
e raios amarelos
de sempre.
na tela da pele
o gosto de canela
devora as horas
nas manhãs
limão refrescante
e o calor do beijo
de cada dia
abre o leque
de opções
no lençol
arco-íris.
afinal,
as preliminares
escreve-se
a dedos...

mais um reflexo




A cor dos meus dias
veste-se em frente
ao espelho
onde apenas sou
mais um reflexo
com receio
de se perder
na dimensão
dos segundos
perdidos sem ti...
o meu mundo
se abre em torno
do sorriso arrebatador
E se entrega
em seu instante
por inteiro.
Há vida no quintal.
Há gosto em mim...
no copo as palavras
se soltam em frente
ao espelho de novo.
 

terça-feira, 18 de agosto de 2009

na varanda




os olhos pedem
por um bis
próximo ao fim
os lábios cerram
os muros dos dentes
na poesia
extraída dos sonhos
talvez distante demais;
nos nós dos dedos
a pele jaz
na alegria
do gozo
contido no beijo
lascivo nos segundos
eterno nas horas
molhadas
nas lágrimas
da língua;
foi apenas um momento
um cochilo rápido
dos ruins é verdade
como o pó.
mas...
valeu o prazer
na tarde
gozada na rede
na varanda
da fazenda
da avó.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

traem-me

Traem-me as lembranças
o calor de seus abraços
as marcas vermelhas
os dedos na pele
os lábios mordidos
o instante do beijo;
Traem-me as sombras
as paredes do quarto
a moldura do retrato
a chuva na vidraça
cigarro no cinzeiro
fumaça sufocante
o copo vazio de uísque
as gavetas vazias;
Traem-me o arrepio
a madrugada fria
o cobertor ausente
o gelo derretido no tapete
telefone mudo
cd arranhado
o vaso quebrado
a alma sente
saudades de ti;
Traem-me os sonhos
noites de insónia
as horas consome
o pouco do nada
poeira na cabeceira
restos de razão;
Traem-me os olhos
lágrimas sentidas
dores da solidão
sexta sem vida
cartas rasgadas
chora o coração.

domingo, 16 de agosto de 2009

Pelo mundo




Tantas estradas,
Tantas encruzilhadas
Tantas avenidas,
Milhões de ruas,
Outras tantas calçadas,
Distribuídas por muitas cidades,
Vilas, bairros, condomínios fechados,
Favelas, becos, ruelas, pinguelas,
Pontes, viadutos, passarelas,
Casas, edifícios e outras contruções
Pelos quatro cantos do mundo.
Muitos segundos
Outros tantos minutos
Criando horas sem fim
Dias...
Semanas...
Meses...
E nada de você em mim!
Por onde andas meu desejo?

vinho tinto

a poesia que me embriaga hoje, é você
bebo cada letra
como um copo de vinho
encorpado...aromático...
saboroso...doce...
saboreio cada gole
com olhos cheios de estrelas
iluminando
caminhos percorridos.
embaralho os dedos
em tua pele
e afogo em seus beijos
meus desejos impossíveis.
e festejo os versos
escritos nos lençóis.

desalento




dos olhos
em momento

de desalento
escorrem lágrimas
entre paredes
ausentes de você.
a saudade grita
em contratempo
devorando a razão
descompassando no peito
as batidas do coração
presente o passado
na manhã cinza escura
a pele ainda sente
o paladar salgado de você
e o futuro sobre o muro
grita palavras obscuras
nas ranhaduras dos tijolos
liquefazendo o azul
esparramados pelo sol.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

anseios

nas paredes
ásperas
das palavras
a pele grita
o rasgo
na poesia
em frases
sem sentidos
explodindo
os sentidos
na poeira
vermelha
e o impacto
dos desejos
sem rumo
pelo espaço
aumenta
a distancia
dos anseios;
nas poesias
rasgadas
a pele áspera
grita palavras
na parede
no vermelho
da poeira
os sentidos
explodem
as frases
sentidas
e o desejo
aumenta
o impacto
da distancia
pelo espaço
sem rumo
dos anseios.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

lírios

Dobra
Degraus
Para cima
A alma.
Borda o rochedo
Palavras escorregadias
Nas pétalas dos olhos.
E a pá lavra na mente
Os lírios do campo.
Brada
Degraus
Para baixo
A lama.
Rosto roto
Sorriso absorto.
Horto vasto
O tempo abranda.
No arquivo bolorento
Sou número
Vivo ou morto.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

furacão

páginas
caladas
reclamam
cores
no olho
do furacão
riscando versos
nos escombros
sorrateiramente.
nas rotatórias da vida
sempre vira a direita
próximo à ilha da fantasia
gastando chuvas
nas horas mortas
de poesias.

girassol




Sol
Gira
A sua flor
Nas manhãs
Dobradas em cores
E nas manhãs cinzas
O carvão rabisca
Na calçada
A flor
Gira
Sol

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

folha caida

O sorriso trai
O pensamento
Numa sequência
Qualquer de mim
Pausando os segundos
Perdidos pelas calçadas
Pelas muitas ruazinhas
Folhas caídas de outras
Tantas poesias
Molhadas sem fim
Nas dores
Todos os amores
São lembrados
 

pombinha




Pombinha
Pele de seda
Desperta
A sede
Incendiaria
De estremecer
Qualquer razão
Inocência
Olhos de menina
Mulher no andar
Sorrisos
Melodias
Nos cabelos sedosos
Boca
Cachoeira de beijos
Calor
Acende incenso
Exala
Perfumes
Vários aromas
De apagar
O bom senso
De qualquer um
Corpo
Inferno de desejos
Cobiçado por muitos
Pombinha
Pálpebras de poucos sonos...
Sinto uma vontade
Gritando nas mãos.
Muitos sonhos...talvez...

quitinete


Almejo a inspiração perfeita
nos detalhes desconhecidos
de segredos e sonhos
impregnados de emoção
suspiro pensamentos
transpirados em perfumes
percorrendo fantasias
na voz vaga-lume
de cada dia
presa em minha íris
Procuro tanto
só encontro você...
Cabelos.
Olhos.
Boca.
Mãos.
Pernas.
Teu corpo é a quitinete do meu ser.

brigadeiro


Poetizo vermes
Na boca da terra
Enlameio
Brigadeiros na festa
Perfumes despertam
Corpos fracos
Nos frascos
À beira da estrada
Beijo
Na boca da noite
Entre suas pernas
Descanso a cabeça
Penetras
Os escaninhos
Das idéias
Naquilo
Onde penso.
Escrevo.
Sinto.
Amo.

sorriso de chaminé


Escarro nas frestas frases desconexas.
Atenção! Proibido cigarros no recinto.
Sorri a chaminé da fábrica.
O ópio da vida
É a droga da morte
Nas horas feitas
Aos segundos nos deslizes
dos eternos minutos.
E quem sofre?
Atoa não sofre
Sofre pelo estado
de direito de alguns...
Presságio na praça podre
A pizza queimou!
Sobrou o caroço da azeitona.
Acetona nos olhos.

pisou fundo


luz tênue.
mistura
de sombras.
negritude
morada
das estrelas.
segredos
da lua.
na via-láctea
toda nua.
pisou fundo...
dos escombros
nasceu
você...
pérola negra...

domingo, 9 de agosto de 2009

degraus


gritam os pés
nas pedras mudas.
cerra a boca
sobram as palavras ruminadas
nos rumos dos ventos.
engole o choro
no soluço sufocado,
temperando as folhas
com o sal das lágrimas.
do cansaço restam
os joelhos nos degraus
do santo predileto.
e a poesia brota a esmo
nas mãos calejadas.
amanhã vou para o interior
em busca de inspiração.
Onde estão as praças?


leite azedo


café requentado.
pão amanhecido.
manteiga rançosa.
mesa bêbada bailando na cozinha suja.
manhã de segunda plena
de olhos ressaca,
depois de um domingo
perdido com o time do coração.
grita versos no verso
da conta de luz vencida três dias.
o açúcar disfarça o azedo do leite.
do jornal com suas verdades e mentiras
pula a parte de esportes.
nada entende fica com a de economia.
o calendário faz a barriga
pedir cobertor no frio sentido
pois era dia de reunião com o chefe metido.
cujo time venceu o seu.
é certa a broxante gozação!
o guardanapo virou papel higiênico
pela falta do mesmo
e no rádio uma canção brega
aumentava a ressaca
completando o pesadelo de uma segunda-feira
pós tentativa de suicídio
na cachaça barata depois do jogo.
-tem nada não, ele vai ser campeão.
murmura a mesma esperança de sempre.

sábado, 8 de agosto de 2009

Falo de uvas


Podia ter acordado com você hoje.
Igual ontem gritando línguas no seu umbigo.
Digo verdades mentindo um pouco, por precaução.
Quem sempre diz verdades?
A certidão entrega quase cinco décadas.
Nesses tempos, dias não passam escorregam ladeira abaixo!
Faço pipas com as folhinhas do calendário.
Cortando o espaço acima de mim vai a rabiola.
Fecho os olhos irritados com a poeira azul caída dos céus.
A calmaria se instala, as pipas descem resignadas.
E o tempo leva os olhos nas madrugadas.
Sempre fui um cara complicado.
Mas nunca aplicado.
Gosto de ficar em cima do muro.
-E às vezes até te procuro.
Nada mais me agrada.
Poesia é uma coisa fácil para quem sabe transmutar.
Percorro seu corpo com a boca dos olhos.
Escrevendo poemas em você com os dedos ávidos de prazer.
Será que você existe?
Destilo o veneno...
Te mordo, me ardo, te mofo no queijo!
Mudo o grito falo na tua língua!
Esqueça de mim se puderes secar
as salivas de tuas uvas.
Será que vai chover?
No copo o vinho aguarda o milagre
de voltar a ser água para quem necessita banho.
Acredito em todos os budas, deuses!
Salve Jorge!!
A ação não ora e é certa a demora do sexo.
O preço sempre aumenta passando o tempo combinado.
Minha mente masturbam minhas idéias.
E gozo poemas com rimas saciadas.
Bebo chá tender orange.
E...
Apago as luzes.
Mais um dia se foi...aproximam-se as cruzes...

escalada


desnuda a alma
uma estranha excitação
aturdida pela cor
ínfima do instante
congelado na íris
espelho embaçado
pelo suspiro na manhã
adormecida ainda
os seios
encravados
imponentes
no continente
prazer de muitas vidas
provocam os dentes
em movimentos contados
pelos dedos ansiosos
do toque
totalmente atento
escalei ferozmente
os lindos montes
e acuado descansei
na caverna só minha
todas as ansiedades
de um novo dia
de amor.

momento sem cor


No momento
sem cor
respira a fumaça
sufocada
invadindo as sombras
instalando solidão azeda
o limão renegado no chão
lambido pelo gato
companheiro de copo
pratos e travesseiro.
Renegadas as unhas cuspidas
morrem sem asas
esboça um indecifrável
sorriso na boca
bolorenta de azia
os olhos vermelhos
pelo renegado
lambido no chão
o gato azeda
nas unhas
a fumaça limão
no copo
morrem as asas
azia na boca
cuspindo o travesseiro
e o companheiro
no momento sem cor
sorri a solidão.

Língua despida


A língua despida.
Mordida,
ressecada,
E esfomeada.
A língua despida,
simplesmente despida,
passeia no corpo.
Os dentes
gritam sensibilidade.
Sensibilidade demais.
A língua se cala.
A saliva trai.
Indicando caminhos já percorridos.
Queria tanto lamber esta língua.
Lambendo esta língua despida,
A pele deixa de ser
vazia,
insípida,
irreconhecível.
Deliciosa língua.
A chama não queima,
não pede,
anseia.
E o corpo?
É todo meu.
E com a língua,
embaralho-me
respirando apressado.
A pele devora a língua,
as horas
e os sabores.

olhos descalços


descalço os olhos
piso nos rastros
das estrelas
seus segredos doridos,
murmuro sonhos
nas palavras beijadas
com um gosto muito de ti,
percorro o abraço
tamanho do mundo
em poucos segundos
bebericando chá de menta
com chocolate,
percorro a cor do caminho
onde os medos
tomam banho de coragem
no colo de mãe,
os ouvidos passeiam
ao vento procurando
a voz de outro sabor
e a sombra
viaja nas pedras
furta-cor,
nas tardes ensolaradas
as roupas no varal
transpiram perfumes no quintal
das memórias espalhadas
pelos cantos do tempo.
no copo água fresca
no corpo vontade imensa...

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

areias brancas

pernoitei
nas horas
engessadas
nas areias brancas
bulidas
pela língua
do mar.
matei
a fome
dos dias
de angustias
emoldurando
na alma
todas as estrelas.
saciei
a sede
do irrequieto desejo
no aconchego
cinza
de seus olhos.
e te abraçei
no instante
demorado
onde nascem
ardorosos beijos!

bem-mal-me-quer

o lençol do tempo enrosca
em nosso inverno
arranhando paredes impossíveis
nas noites encardidas
empoeiradas no olhar
de malmequeres
apreende as linhas
quilômetros de suas mãos
na preguiça de abrir
as persianas de mais um dia
na pressa dos segredos dos ventos
investe contra a minha nostalgia
levando a jabuticaba
dos meus olhos
deixando os galhos
totalmente vazios.
o bem-mal-me-quer ficou
nas pálpebras do espelho
nos fios de cabelos soltos
e o travesseiro sozinho
acorda comigo...

esqueci a Baleia


ouve o não sem cor definida,

o silencio grita a boca muda,

a pele coça a tristeza por certo

e os dedos nem chegam perto,

carrega a dor pesada nas olheiras,

respira lentamente a desventura

na hora cheia de ausência cega,

engole o sangue seco de saliva

nos lábios bastante mordidos,

tropeça no canto quando se arrasta,

e só queria da vida uma língua

para aliviar as tantas feridas.

eita mundo cão!!!

esqueci a *Baleia
*Baleia, a cachorrinha de Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos.

me perco


me perco quando te encontro
odeio quando te amo
pois é certo o sofrimento
sinto sede quando te bebo
me arrasto quando tu andas
fico cego quando me olhas
me escancaro quando tu abres a boca
me transmuto quando quiseres
sinto delicias quando me açoitas
choro feito criança no carinho
a poeira do seu sapato
é açúcar na minha língua
quando falas me traduzo tateando
introduzo quando me mordes
sacio a fome de você
seus olhos fechados me guiam
e se um dia me deixares
vou junto,
sou o caminho onde pisas.

filha de uma santa


inveja o passado frente ao presente
abortando o futuro no muro dos ventos
onde o gato arrepia o latido do cão
onde treme e teme não achar
o perdido embaixo do cobertor
na noite de olhos fechados
não viu o mundo
nem aquilo tudo
ficou na pele
o esparadrapo podre das ruas
entre as pernas
e a parada de ônibus escancara
a verdade mais nua do que crua
pois a carne já foi amaciada
nos vinagres ácidos da vida
- és puta filha de uma santa mulher...
no chão o chinelo que faltou no lombo
marcando o piso sujo da clínica
no amarelo das lâmpadas da cidade.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

oásis


a poeira escreve
o dedo na mesa
fica a pedra
presa no dente
depois de morder
a lua em seu deserto
vazio cheio de cavernas.
o amor viaja no sangue
movido a limão
e cana nobre
na pura seda
o incenso acorda
o beijo no abraço,
o sorriso trai
no lugar vago
de quem em êxtase
se foi naquele quadro
aonde o sol
se põem
atrás do oásis.

o jarro


o jarro colorido
sobre a mesa marfim revela,
a ausência de suas fotos
e do perfume das flores,
na escuridão dos olhos
esconde a solidão da vela,
na gaveta junto as meias
sussurra todas as dores.
a boca amarga o vinho
seco a saudade engole,
o cinzeiro escorrega
derrubando cinzas pelo chão,
do cigarro nuvens
de fumaça aos poucos escapole,
e do alto teor alcoólico
cambaleia o coração.
nas noites desvairadas
suspira seu nome,
chorando sobre os lençóis
sua tristeza,
mesmo assim
este momento
não consome,
dentro do peito
a esperança e uma certeza,
para quem acredita no amor
a solidão é breve.

fotografia


a pior cadeia
é aquela pendurada na parede
ou aquela guardada na gaveta
ou em uma agenda qualquer
prisão sem barras de aço
aprisiona com uma simples película
tamanho ¾ e outras dimensões
sorrisos congelados
sofrimentos eternizados
antes do amarelo
tomar conta dos corações
as vezes me pergunto,
como estava naquele dia?
o que eu pensava?
o que pensavam?
só a imagem ficou guardada
no instante do clique e do flash
o sorriso sacana se manifesta
em um instante
quando te vejo presa comigo
na carteira antiga esquecida
no velho guarda-roupas
sorrindo talvez
a contra gosto
cabelo solto ao vento
ainda sinto o cheiro
o corpo a voz
se foi naquele mês
restou a foto do momento
pelo menos nela te tenho.

milhos pelo caminho



o milho
debulha o sabugo
deixando rastros
na pamonha
e o curau
lembra na canela
o grão de terra
macia na raiz
na hora da colheita
e o cuscuz chora
na falta do leite
o abraço doce da palha
mostrando os cabelos
de cores variadas
ao vento.
este cheiro de interior
invade
o nariz da alma
despertando
a criança sem medo
de por os pés no chão.
por que a gente cresce?
pelo único motivo e razão
trilhar o longo caminho pela frente
retornando para os braços da terra.

rio abaixo


abaixo
o rio
sobe a canoa
por dentro
o dia
fica fora
a terra encera
o pó dos pés
o perfume
da rosa espeta
o espinho acorda
o sonho
enquanto dorme
fica firme
e a água escorre
o vinho bebe
a lucidez no copo
quebrado na parede
o vinho barato
tremula a mão
a bandeira
nos olhos rotos
embaçados
na bacia rasa
de lágrimas
a porta abre
a casa
na janela intriga
o dia na noite
desfeita a cama
cobre o lenço
o nariz espirra
o pólen a flor
na abelha
e o mel
adoça o coração

semana

- Segunda-feira -
Cai na pia
mais um dia
da folhinha
marcada de vermelho
“aqui terminamos,
saudades danadas
irei sentir.”
a semana
vai durar um mês.
Sai sem tomar café
- Terça-feira -
No retrovisor
do banheiro
a distancia
do corredor
acresce KM
a mais de uma vez.
O eco do silencio
incomoda nas manhãs
de café frio.
- Quarta-feira -
As luzes néon
da cidade invadem
as sombras do quarto
beco silencioso
na madrugada
convocando
para mais um dia
de ausência
dos sabores agridoces
e dos perfumes.
O leite azedou
e o chá acabou.
- Quinta-feira -
nos entremeios
da noite
encharquei
o travesseiro
na falta do calor
exatamente
nas horas
vazadas
dos sonos
tardios,
elas adubam
a insônia.
O pão amanhecido
estava um horror
e a manteiga tava dura.
- Sexta-feira -
A folhinha anuncia
a sobrevida
do quinto dia,
quando de repente
a palavra saudade
aperta o peito
no telefone
tocando.
Será?
Certeza teve, era.
A esperança fez o sorriso
iluminar a manhã cinza,
O sábado promete.
O café estava delicioso.
- Sábado -
O beijo afogou
a tristeza na garganta
com poemas
escritos na língua
E o corpo destilou
o desejo no sofá,
tapetes, corredor,
banheira e recomeçou
na cama
e fez pausa
na hora do lanche
antes de tentar dormir.
- Domingo -
Não incomodem!
hoje é dia
de acordar
tarde.
 
 
 

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

tereré


reconheço o sol
dos teus caminhos impossíveis
no meio da tarde
seguindo os sinais
da sobrancelha na ribanceira
antes do choro da chuva
vejo o desenho
das rodas na estrada
caminho de Campo Grande
imaginando a moldura
perfeita para tão bela tela
ouço “ tem nada a ver”
e o sorriso escancara
a saudade saciada.
e os pássaros dos olhos
pousam na árvore
feliz pelo seu espaço.
monto o quebra cabeça
das minhas lembranças
e alegria de mãe bate forte
no tambor coração
acelero o vento no rosto
saudoso do beijo dela
a distancia aproxima a cidade
não vejo a hora de matar
a sede no tereré.

DP (sem penetração)


Embriagado pela acidez
do seu perfume
a fumaça do cigarro
desmaiou no cinzeiro
e os dentes sangraram no copo
o veneno destilado
dos lábios sôfregos de paixão
E a música rolando no recinto
a calça caindo na falta do cinto
desmanchou no tapete
dois corpos suados
pelo excesso de tesão
E o interfone gritando
na madrugada anunciava
a plateia barrada desesperada
na entrada do show
e a música se misturava
ao som da sirene
e das luzes vermelhas
da viatura
dos homens e seus coturnos
e de rostos soturnos
Batendo e berrando na porta
“É proibido o grito de amor
Tá valendo o grito de dor.”
Toca todo mundo pra 1ªDP.

vomitei vodka



Já ouvi muitos "nãos" pela vida afora
Agora o mais dolorido
Foi o do olhar negativo
Do pai daquela menina
A quem eu estava cativo
Doeu tanto na hora
E outras tantas horas depois
Que sinto ainda no corpo
Mesmo passado tanto tempo
O açoite recebido naquela noite de sexta
Quando as ruas se tornaram
Ladeiras esburacadas
Quando entendi que só servia
Para ser o amigo
Nunca doeu tanto
Me olhar no espelho
Nunca senti tanto frio
Em um dia de calor
E nunca vi a morte
Tão perto
Seis andares de distância
Chorei lágrimas de areia
Vomitei
Cachaça e agonia
Vodka e saudades
Montila e solidão
E boldo da mão
De mãe, e ela disse:
“Meu filho, nas dores nascem os poetas.”
A imagem daquela menina
Devagar se esvai
De minha mente
E o meu coração
Se foi no não
do pai.

abduzidos


Sonhei alto
e a escada estava lá
só faltou pernas
e sobrou rodas
e o eleva
deixou todas as dores
na lente míope dos óculos
era pouca bunda
para muitos degraus
Gritei meu silencio
nervoso nas mãos
e o olho cego
de movimentos
não entendeu
Tropecei na sombra
da língua muda
de letras
e senti
o vazio do abraço
e o meu melhor amigo
ainda é o cachorro
A minha mente
esborracha na parede fria
da indiferença
e o elogio
“especial” ontem
hoje é silencio das horas
Ser (d)eficiente não me incomoda
O que me incomoda
é ter sido abduzido
para um planeta
muito atrasado.
Como pedir respeito
as pessoas ditas sãs
se elas mesmos
não se respeitam.
Não se entendem.
É f...

me leva

Escapo da válvula,
Pergunto as respostas,
O secreto delato,
Adivinhem o adubo!(olha a rima),
Movo na inércia,
O ataque tardia,
das batatas só as fritas,
do ovo...(melhor mudar de assunto)
Penso, logo me arrependo;
A vida encurta ao longo (da mesma)
Por ter preço pechincha;
Friamente nos matamos no calor
fritando o planeta;
Os índios pelados
usam máscaras
na cara de pau(tapando o mesmo);
Espirrou não diga saúde
Corra pode ser a gripe;
Secretos somente os atos(como sempre)
A verdade dói
E a mentira também
E pra terminar...
Fiado só amanhã
Mas, se for bonita,
Me leva!

a mão

A mão dá
E atira
No escuro,
O tapa
É a mão
No rosto.
Ergue,
E derruba
muros.
Os dedos,
Anulam,
O mínimo
Indicado.
Apontam
Seus podres,
Torpes,
Depois repete.
Um condena,
Três abstém,
E o outro
Assiste tudo,
Não diz nada.

enjoo



Vazio e mudo
Folheio o livro
Cochilo no enjoo
Das palavras repetidas
E nas entrelinhas das frases
Vomitadas a esmo
Encontro
Minhas perguntas.
E as respostas?
No chão
Espera o rodo.
E o cachorro
passa longe.

fecha...

fecha os dentes engolindo o sorriso,
cala o beijo
na garganta travada,
e o gozo
invade sob as unhas
cravadas na pele,
os segredos entregues no cansaço.
fecha a porta escondendo nos olhos
as delicias do prazer
sentida na língua
no mel escorrendo montanhas
por segundos sem fim.
fecha o tempo lá fora
entre ventos e raios
aliviando o calor elevado do quarto
onde até a vidraça cúmplice
embaçada guardava
a privacidade do instante.
por fim abre o sorriso
no momento de trégua,
até o recomeço...