sexta-feira, 31 de julho de 2009

a volta


Espere-me por favor!
Suplica a voz distante próxima
a despedida no canto
se aquieta,
À porta da sala se avizinha
o fim de caso na noite fria
de um julho qualquer deserta,
Relâmpagos e trovões anunciam
chuvas chorosas pela janela
esvoaça saudades na vidraça,
Desajeitada a mente procura
palavras nas paredes da memória
a razão da desavença,
A chuva cai molhando
o rosto já molhado pelas águas
primeiras de agosto algo inédito,
Inundando a boca na angústia
de amanhecer sozinha na cama
a alma em descrédito,
O telefone toca e o sol
na manhã nublada tem vazão
em seus olhos emocionados,
A distância revela o mesmo amor
e a inevitável volta
aos dois corações enamorados.

fragmentos da cidade ( I ato )



“...tarde quente
no frio da barriga
cachaça ardente!”
(“no cabelo a nicotina
irrita o nariz
em trejeitos de palhaço
sem graça a fumaça
suicida dança”)
No horizonte a frente
vejo o belo decorando
a perna no andar gracioso
a corrente no tornozelo
Algemas no corpo livre
dando preço ao prazer fortuito
e os olhos traem
a maestria do desejo
embutido no pico da montanha
onde cresce a humanidade
contraste
do lindo com o feio
nas proximidades
da Rodoviária
onde a esmola
na mão da criança
se torna cola
(sonhava ser craque)
na vida sem esperança
dos olhos apagados
na paisagem
tirando notas da sanfona
fazendo de Brasília uma New York
do cerrado
e o aleijadinho
sem deficiência( por certo)
se arrasta na plataforma
procurando lucro fácil
das pessoas que lucram facilmente
nos podres poderes
babel prostituta
que rouba e vende
os bois da urna eletrônica
como queima de estoque
na loja a céu aberto
e ao longe... se escuta
o coturno odiado
antes
durante
e depois
da coça imposta
a quem questiona
a libertinagem
de quem pode
e cabe aqui palavras
não apropriadas
as crianças...
a moça segue
entre olhos famintos
daquele tipo de carne
bebendo caldo de cana
devorando
com os poucos dentes
o pastel de queijo proletariado
suado na roupa
surrado na alma
e os pés trôpego
de cachaça paga
na miséria da labuta
de um dia ganho
no cansaço
da obra chique
no Lago Sul
e então...
E então?
Fechei o rosto
entrei no buzão
com destino a Torre
talvez lá encontre
a direção
ao longe esvaindo
o pôr do sol
(fim do I ato)

fragmentos da cidade ( II ato)


Agora aqui na árvore fria de metal
(nossa Torre Eiffel)
linda em dezembro
com suas luzes
desmancha em sombras
no planalto central
estuprada no calor
das horas vividas
A bordo deste avião
(o piloto sumiu)
estacionado em meio
ao caos de pessoas
de lugares outros
sonhos vários pesares
noto a criança na moto
de olho na pipa
(não confunda)
teimosa na mão do artista
alçando voos em direção
as árvores sem folhas
só galhos secos retorcidos
cheias de vida
nos primeiros pingos das chuvas
a baiana filha de candango
vendendo acarajé
e o mesmo temperando
a buchada de bode
entre o monóxido de carbono
de fazer suar turista
de quilate qualquer
e late o cachorro
de dono perdido
na manguaça dormindo
no papelão o forro
na parada
do buzão
Os "meninos" fortinhos
procurando derramar
o mel de quem procura
no reboleio da menina
momentos de encantamentos
em meio a turba nervosa
por preços módicos
e contar vantagens mais tarde
no quartel
A torre imponente
impotente no pensamento
suicida de muitos
observa silenciosamente
a movimentação
desordenada
da cidade esperança
onde prostitutas
e crianças
se vendem a preço
de chiclete de menta
e quentinhas
para as lombrigas
da periferia
Esta tela digna do MASP
é o cotidiano
rapa do fundo do tacho
orfã de JK
saudosa de seus passos
no inicio da tarde
de um domingo qualquer
onde o luxo
se mistura ao lixo
entre placas pichadas
mofos da má formação
e viadutos
(é isto mesmo)
violando o espaço
multiuso
numa transa
sem igual
indo e vindo
até o gozo final
(fim do II ato)

fragmentos da cidade (ato final)


E o buzão limusine de pobre
(de rico é Carro Oficial)
segue vagarosamente
pelo Eixo Monumental
lotado de suor e perfume
barato de mercado
Bafo de cana 88
descansando na cintura
o trinta e oito
do “trabalhador noturno”
gato na madrugada
vindo para mais uma noite
insone e insana
tirar da luta de outros
o leite das crianças
sonha perto da Torre
ver as luzes de natal
a esperança renascida
no mesmo presépio
de muitos dezembros
O mercado noturno
abrindo suas portas
convida a petiscar
o filé miau
entre latas de cerveja
amassadas descansando
no saco para vender depois
pontas de cigarros
e o cheiro inconfundível
do incenso queimado
atrás da parada
A luz do dia se esvai
num grito mudo
ao longo da larga avenida
entre carros e pedestres
apressados na fumaça
sufocante do buzão
angustiado de revisão
e eu...
E eu?
Sigo para casa sorrindo
admirando
(através da moldura)
esta cidade
(distante de qualquer lugar)
onde aprendi a amar...
(Ato final)
 
 
 
 
 
 
 

Máquina do tempo


as curvas
presentes
na face risonha
são motivos
de saudades
depois do clique
frio digital,
deviam
ser máquinas do tempo
as fotos tiradas
nos bons momentos,
assim
poderíamos
nos impasses
da vida
retornarmos
à felicidade
nelas congeladas.

leve descontentamento


o chão
desmonta
o joelho
na reza
a palavra espera
o revés não dito
escrito
lá na poeira
sobre a mesa
seca o último gole
e sob a mesma
migalhas
fugitivas
do pão.
a mão
suada
a face
surrada a noite
sopra
páginas amarrotadas
forra o frio
e o morro
escorre a chuva e a flor
aguarda a sorte
na mão lida
na rua e o espinho
fura a linha
curta da vida
e de lá se avista
a tristeza
na mesa o jarro.
é poesia
as dores
descritas
no embrulho jornal
onde o perfume
e o peixe
misturam no domingo
o gol
do titulo passado
e as palavras
cruzadas por terminar
insistem desafiar alguém.
Quem?
amanhã é segunda...
resiste um leve descontentamento...


quarta-feira, 29 de julho de 2009

rompendo muro


venha
chegue mais
perto dos olhos. olhe
e veja
o cinza
na tarde. fumaça
no espelho. a voz
chamando
seu nome no escuro
do beco
na árvore
rompendo muro
venha
encoste o corpo
no peito. escute o som
profundo
do coração
enquanto você pode
venha correndo. estou
esperando totalmente
sozinho na escuridão
não diga não

meu lugar


vi sombras sobre o Sudoeste
nuvens de chuvas

vindas da Granja do Torto
destas de esconder o endereço
do olhar absorto
melhor não encarar o elevador
e sim descer ou subir

os lances da escadaria
o céu por estas bandas

é um show no Terraço
lugar privilegiado

do Distrito Federal
onde descanso o cansaço
bem ali na Octogonal.
e a chuva caindo

na Quadra 300
próxima ao JK
mostra a beleza molhada
de arrojada arquitetura
de seus blocos 100%
repletos de calor humano
aqui tenho tudo
lojas,
hospital,
restaurantes,
segurança
e estudo.
um paraíso
isso é perto o suficiente agora ...

venha aqui

eu te mostro!
 

próxima noite


procurei nas palavras separadas
no meio do mundo
encontrei na mistura do joio
o trigo no coração
separei a saudade da boca
matando a sede da paixão
mergulhei na piscina negra
dos teus olhos até o fundo
quando o seu sorriso
abriu a porta do quarto, acordei
quando despiu o corpo
tremula de emoção, me encantei
bebendo até a última gota
do néctar doce, me embriaguei
sentindo a felicidade na alma
como sempre sonhei.
o seu perfume me despertou
estava uma noite quente
um leve aroma,
invadiu os meus sentidos
olhei para o lado
estava só novamente
vou esperar pela próxima noite!

copo sobre a mesa


nada mais importa
a garrafa sobre a mesa
o suor na testa
cega as vistas
o breu vago
acolhe a tristeza
a boca não nega
o doce açoite
do alto teor
no fundo do copo
na metade da noite
definhando o corpo
entorpecendo a mente.
não interessa mais a conduta
e o conceito de quem se abraça
se é santa
ou se é puta
se cobra caro
ou seja de graça
importa
no momento
é saber
se a falta
de alguém
passa...
Um copo sobre a mesa
Garganta seca sem ninguém
Nem a dama da noite
Quis dividir a pouca alegria que tem.
Pouco importa...
o céu tornou-se vermelho carmim
E o amor cúmplice de outrora
chegou ao fim...

A Cecília


Da porta à sacada
espera a moça,
Da quadra a calçada
lua na poça,
Na chuva o guarda.
Do muro o reboco
fumaça do vicio,
Do canto o coro
sinfonia no inicio,
No tapa o choro.
Do infinito o espaço
No regresso à janela
Do ângulo o compasso
Na moldura a aquarela
Na encosta o paço.
Da dor a cicatriz
Na tela as cores
Da música o bis
Na poesia os amores
Do arco a íris.
E da Cecília?
isto e aquilo!

corre vento


o tempo passa...
devo seguir?
ou me esconder?
sou a pipa, a arapuca e as horas
o vento negou...
nada pegou...
e o relógio parou...
devo mentir?
ou a verdade procurar?
cansei na espera...demora de mim...
pergunto ao vento
a razão de tanta pressa?
necessito afago nos cabelos
beijo no rosto
batom na cor carmim
um dia me fez voar...


"ele diz, feche os olhos...
sinta o perfume
carrego a muito,
até aqui
vou e volto logo.
tem alguém nos atalhos
deste mundo
esperando por mim
na chuva fria aguardando
noticias de ti."


me leve então sem demora
para os braços de quem chora
por quem guardo muito amor
talvez ela me perdoe
e juntos esqueçamos tanta dor
pois o tempo passa...
então corre rápido, por favor!
 

Saci-Pererê


Meus medos.
Meus pensamentos.
Atravessa o gato preto
No caminho a escada
Moleque travesso
O assovio na estrada
O gorro vermelho
a farra no ar
Correr ou ficar?
Falta perna
Na certeza da queda
O salto
frio na barriga
sonhos de guri
Fazer história
Como deficiente?
Para que
Se já somos lenda
Salve, salve
Saci-Pererê

esquina


...longe
os olhos
desencontra outros
de nenhum se agrada
...finge
a boca
no sorriso frouxo
perto da noite
...surge
unhas pintadas
minissaia poder da queda
na esquina o mundo gira
...esquece
mente pra si mesmo
na verdade rota pra não sentir
a pancada na vida
...escurece
na manhã
ressaca cinzenta
dentro dos olhos
...padece
na procura
silenciosa de si
na tarde em seu fim.

terça-feira, 28 de julho de 2009

chuva na quadra


ouço,
nas horas da tarde
a chuva caindo. o barulho
na quadra. o sol sumindo
a moça
na parada. mirando
a poça
os pés. molhados
indo. ocaso
do caso. na estrada
só fumaça.
e agora?
quem vai
apagar a luz
da sacada
dos olhos
na hora do beijo?

Noite


Nesta noite quero sentir muito frio
Assim a lembrança do calor de seu beijo
E o rubor de seu rosto
Ao se entregar toda nua
Terei de volta.
Que as nuvens guardem
As estrelas e a lua
Aconchegue o céu no meu peito
Invocando antigos desejos
Em minha mente absorta.
Nesta noite cinza dos olhos
A paixão vai consumindo
Êxtase no limite do prazer
Segredando palavras meigas
Numa linguagem serena.
Os olhos sendo espelhos
Embaçados pelo suspiro de teus lábios
Liberte a alma por demais pequena
E abarque nesta noite fria
O melhor de você.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Como fazer?




Como fazer você entender?


Que os seus sonhos
Estão ao alcance de suas mãos
Como as areias
Sob os seus escarpim


Como fazer você perceber?


Que todos os seus caminhos
Preenche todos os meus vãos,
Deixando rastros das suas teias
Na minha mente vã.

A parede do quarto
sussurra sua presença.
O lençol da cama chora
a falta do seu perfume.
O corredor aumenta
a distância entre nós.

A saudade transtorna
a cabeça na noite tensa.
Fica no rosto as marcas
do calor do lume.
E no coração
uma angústia atroz.

Como fazer você entender?

Como fazer você perceber?

Que te amo!

arapuca do coração


hoje
voando na mesma direção
olhando pra você
com cara de bobo
na boca o beijo
de adeus solidão
No corpo
o desejo morno.
Descobri
o gosto de estar
na gaiola
dos olhos teus
onde encontro
o céu necessário
no seu peito
onde o amor
faz sentido no espelho
onde você
me ama do seu jeito
Sou seu apaixonado
Passarinho capturado
Na arapuca do seu coração
Por favor feche esta porta
Pois agora o que importa
É viver esta paixão

Muro


no frio
labirinto
do absurdo
desfio
por inteiro
no meio do asfalto
a incerteza
entulhada
na calçada
desviando o vento
sem direção.
o tique
nervoso
causa
a taquicardia
na tarde
despertando algo
na vivida
lembrança
espaço
no muro imenso
chapiscado
ardia
o vazio
de você.

Vai..


xingar ou achincalhar?
A intimidade diferencia
O arranhão na pele
A pedra na vidraça
nas letras explicitas
Nos versos inversos
Na reza oculta
Nos amores diversos
Na f... sem graça
No corpo nu
Em poucas palavras
Em época de economia
Vai tomar no c...

negue


Negue aquilo
Que te faz
Pra baixo.
Negue assim
Como nega o vento
O sal nas lágrimas
Pousada na emoção
Vazia da borboleta
Azul na rosa
Murcha no jardim.
Negue a língua
Muda no grito
Surda de tanto
Palavrear a desdita
Dita ao coração.
Negue e preze
Atenção na retina
Distante no passado
Presente em cada sina
Distinta de todos.
Negue o infinito
Pela dificuldade
De contabilizar
Guardar e aguardar
A sagrada vontade
De quem?
Negue a cor
Time, política e religião
A raça nunca !
 

domingo, 26 de julho de 2009

Quero


Quero ser o motivo
do seu sorriso
O ritmo que embala
os seus sonhos
Quero sempre estar
assim contigo
Desfazendo
todos os desenganos

Quero ser o café
servido na cama
Do baralho novo
o às na tua mesa
o abraço que sacia
quem se ama
beijo doce
na sobremesa

E sendo o amor
da sua vida
quero brilhar
nos olhos teus
Acabando
com as intrigas
Pra nunca mais
dizer adeus

Decifre


Decifre...
Nos lábios
Escute

Nos beijos
Leia

As palavras

Na língua
E entenderás

A mensagem

Escrita no céu

Da boca.
Desnude...

Os mistérios
No toque macio

Na pele
Elevando

O calor

Escondido

Na calma

No corpo.
Revele...

As delícias

Nos desejos

Os segredos

Do coração

Da alma

Sem medos.
Decifre...me

onde?


onde estás?
nas horas finais?
no relógio parado?
cadê o sorriso de ternura?
o choro de alegria?
cadê os gemidos contidos?
gritos de prazer?
onde estás?
os minutos
pertencem
aos ponteiros
a boca
nas palavras
minguadas
sussurra
a falta
na aridez
dos sentidos
os dias
completam
mais um ano
sem
você

sábado, 25 de julho de 2009

Mulher no espelho

* mulher no espelho, tela de Vicente do Rego Monteiro


no espelho
do quarto,

uma mulher
o corpo,

úmido de beijos
os olhos,

repletos de desejos
as mãos,

silenciosamente

deslizando
os seios,

começo de tudo.
cabelos,

sempre molhados.
lábios,

ansiosos pela língua
necessito,

me perder

na sua pele
descansar

o cansaço

no ventre
e na gruta,

extinguir

a tensão

do dia.

Derrapei...


derrapei

nas curvas do teu silencio
mergulhando no poço

seco e fundo dos teus olhos
tremendo nas sombras

da noite restante
na ausência do ombro

sob o meu queixo
e do abraço naufrago de carinho
na cama cheia das horas cinzas
como as paredes do quarto
vazias de você

Tim tim...


Embriagado pelo vinho doce
De tua boca
- trêmulas as mãos -
Tento escrever em poucas palavras
No espaço que a tontura deixa
A rima sóbria na sua pele nua
- uma dose basta?
Vicio de você. Em mim.
Na exata medida
Do amor enfim.
Prost!!!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Você preenche


Você me preenche
Conheces em ti
Perfuma no odor
Me cheira
Sabor na pele
Oferece por inteira
Enfeitiça nas fantasias
O olhar mais distantes
Como se o futuro
Presente fosse
Nos passos traça
O rumo da alma
Desfaz os nós de mais um dia
Soltando o sorriso no vento
Materializando o desejo
Prolongando um no outro
As ausências do corpo.
Você arrumando
Recantos poeirentos do coração
Onde és tudo agora
Cala e se queda
No silêncio da hora
Aconchega no braço aberto
Para sentires bem
O brilho nos olhos meus
Cumplicidade em toda plenitude
De nós dois.

bombom


Os dedos
Travessos
Provocam
Em sua pele negra
Delírios
Fervorosos.
A língua
Voraz
Umedece
A causa
De tanta paixão
Descarregando
Ondas
De arrepios
No seu corpo.
Tua pele negra
Minha pele branca
É bombom
É doce
É calda
É gozo.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Horas


Vivo
todas
as horas
nos poucos
minutos
ao teu lado
Me jogo
nas águas
que caem
dos seus olhos
E mato
a sede
do beijo
inquieto
Acalento
o frio
da alma
No aconchego
dos teus abraços
Dando fim
as cinzas
dos meus dias
de prantos

Tela

(Galatea of the Spheres - Salvador Dali)

Os teus olhos
São as cores que preciso
Encaixar na tela vazia
E deixar escorrer pelo chão
Poesias em forma de riscos
E de palavras soltas
no encontro das línguas
Sedentas pelo toque final
Nas misturas das cores
A obra nunca chega ao fim
Sempre há um novo começo
Nada termina aqui
Os teus olhos
São os sons que pronuncio
Na leitura tátil da pele.
Valei-me Salvador Dali.

Língua

a língua
ao longo

do corpo
pensamento

solto
abelhas

no jardim
florido
murmurando

o mel
da boca
na grama

úmida
de desejo
o dente
na pele

gosto de sal
tatua

marcas
de tesão
arrepios

na pronuncia
ternura

nua
delimita

a fronteira
afinal
sou teu...
dizes,

sou tua...

terça-feira, 21 de julho de 2009

Insónia


A lembrança de você
está no segredo dos olhos
nas nuvens chuvosas
cobrindo o céu azul
na tarde preguiçosa
no cansaço da estrada.
A saudade de você
tece tantos poemas
no lençol amarrotado
onde o calor do desejo
não derrete o gelo
vazio do quarto.
A vontade de você
acende a insónia na noite
e as grades da janela
impedem o voo das palavras...
Não o sonho
Mesmo acordado.

de joelhos


calei
a vontade
da falta

de você.
nego

a saudade presente
na boca
ausente

no toque
na face

molhada
mar negro

dos olhos
descompasso

do coração
batendo silenciosamente
na noite
sufocante.
impossível

isolar
o grito mudo
do adeus.

de joelhos
rezo
os pecados meus.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Aqui em mim


Aqui em mim
Grita uma alma rebelde
Haicai metricamente
Perfeito no estilo
Vagabunda
Em estrofes
No beco
Encontra
Atalho
Na rima
Na esquina
Acha no sinaleiro
A poesia vadia
Existente no corpo
No beijo vendido
Na inocência perdida
Nu
Asfalto
Áspero da avenida
Aqui em mim
O vazio inquieto
Sussurra no desespero
Palavras de amor
Mesmo na dor
Viva as flores
O sol
A lua
Os rios
Desamores
Os podres
E as putas...
Tudo para o poeta
Tem valor.

domingo, 19 de julho de 2009

Sobre você



Dos lábios,
marcas de batom no pescoço...
Da boca,
gosto de hortelã melodia perfeita…
Dos olhos,
pedaços de mim brilho na sombra...
Do rosto,
imensidão do infinito perfeito...
Do corpo,
desejo na noite

de todos os sonhos...
Na pele,
perfume de todos os jardins...
Das mãos,
apoio seguro na hora do medo...
Dos pés,
subindo montanhas

seguindo caminhos...
Dos cabelos,
no peito

centímetros de eternidade...
Do abraço,
o calor aconchegante do carinho…
No coração,
prazer do teu amor...
Na vida,
certeza de felicidade.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

como pude...




Ontem no meio da noite

Procurei nas ruas


Um abraço


Um carinho de aluguel

Numa desesperada tentativa


De preencher


A falta que você faz

Sozinho voltei...


Os olhos pesados de saudades


Derramavam lágrimas


Como chuva do céu

E sentia


Cada vez mais


A vontade


De viver a alegria


De tempos atrás

Quando você enchia


O quarto de êxtase

E se entregava


Para mim despida


Sem arrependimento

Deixando nos lençóis


E em meu corpo


Seu perfume

Ah!


Você encheu


De sonhos


Este momento...

Como pude deixar


tudo terminar assim?

Tempo perdido



a foto amarelada
pelo tempo
ainda está vivo
em minha saudade!...
os meus olhos
ainda embaçados
pelas lágrimas
da distância;
chorei,
como uma criança
na falta
do colo de mãe,
tentei colorir
teus traços...
de repente
te vi de relance
se afastando ansiosa
com passos
largos e irritados;
sussurrei
teu nome
na esperança
de ver
pela última vez
teu vulto...
tua face...
teu corpo!
meu castigo
foi ser eu mesmo
devia ter mentido?
Esse foi meu erro
dizer a verdade
sem exagero...
te amei
sem muito alarde
na calma
sem absurdo
nem fantasia;
o que você queria?
nem sei por que
perco tempo
querendo voltar.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Foi o vento



o tempo
é o mesmo
sol no rosto
é verão
a paisagem
não é
e ela também...
foi o ciúmes
distância
do coração
motivo
e mudança
na maquiagem
nos cabelos.
no erro foi
a lembrança,
a carícia
e do beijo
o gosto.
o tempo
o mesmo
de estranho
as lágrimas
pelo vento
trazidas
na saudade.
que vento é esse?

cenário completo



as horas
passam
inventando
uma manhã
furta cor
de sonhos,
projetando
no semblante
um sorriso
da alma
sem tumultos,
o lençol
cobre
a parte
ausente
no cenário
que componho,
você
encolhida
toda nua
esquentando
a palma da mão
no playground
dos meus desejos
um instante
prolonga
o piscar
de olhos
e a boca
murmura
completando
o espaço
- Bom dia meu amor!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

motivo



tantas incertezas.
no caminho,
pedras
encruzilhadas. encontradas
avisos
alertas colocadas
nem todos os desejos
podem conceber
necessidade. um fato...
não lamente
o tal pouco
sem notar
o eventual muito. aqui...
não se ocupe
- ou se culpe? -
por quem se afasta
não ignore
- ou inveje? -
quem se aproxima
talvez...
pranteie a ausência.
até quando...
...não sei
dê azo
e entenda
necessitamos...
abraços.

vários jeitos


a multidão que vejo.
tomam as horas.
que ultrapassam.
na ânsia dos dias.
a esperança.
à flor da pele.
----------
as horas.
que ultrapassam.
à flor da pele.
tomam a esperança.
na ânsia dos dias.
que vejo na multidão.
----------
à flor da pele.
que vejo.
na multidão.
ultrapassam na ânsia.
a esperança.
que as horas tomam.
----------
a esperança.
dos dias.
vejo as horas.
que ultrapassam.
na ânsia.
tomam a multidão.
à flor da pele.
----------
os dias que vejo
à flor da pele
ultrapassam
as horas
tomam a multidão
na ânsia
da esperança.
----------
na ânsia
a esperança
tomam das horas
os dias
e ultrapassam
a multidão
que vejo
à flor da pele.
----------
vejo os dias
as horas
a esperança
a multidão
na ânsia
tomam
e ultrapassam
à flor da pele.
 

terça-feira, 14 de julho de 2009

Dia só meu


Espero ter
meus amigos
por perto
Meus amores
Minha vida
Minhas dores
Ter um dia só meu
Na rotina
da retina
dos olhos
De quem passa na rua
Invejando minha alma nua
Minha fala travada na boca
O sorriso riscado no rosto
E o coração pulsando
na garganta
Ao olhar o tempo que vivi
Não me arrependo
de quase nada
Pois sou fruto
de minhas causas
E a próxima existência
garantida
Nos efeitos acumulados
na boa sorte
Sigo em frente
olhando no retrovisor
As coisas ruins
ficando cada vez mais longe
Tenho saudades
do colo de mãe
De aprender o ABC
Espero ter meus irmãos por perto
Mesmo na distância
vazia dos quilômetros
E juntos novamente
ter muito o que fazer
Criando uma nova história
sem ressentimentos tolos
Hoje é só o começo...

Poeira



O caminho leva minhas forças
E o tempo não será meu
Os carinhos de tuas mãos
Decifram minhas dores
Secam as lágrimas
Nas tardes enfadonhas

E modorrentas
De sufocantes palavras
Mortas no sentido.
O poema não necessita
De espaço concreto
Nem de densas paredes
Precisa de coração atento
Solidão e saudades,
Ciúmes do belo,
E do feio e até do etc...
Resta na mensagem
O passar do vento
De cada dia
Eternidade na poeira.

Faz bem doer.




Na rua vazia
De você
A voz p
reenche
O silêncio
Na boca

Nervosa.


No encontro
Mudo dos olhos
O ciúme

Causa
Distância

Do beijo.


Riscos demais

No rosto

Sorriso forçado
Amar
Faz doer
Mas...faz bem.

Choro e riso

chorei
na noite.
na espera
chorei.
o ontem
se foi
em silêncio.
sobrou as rugas
sem lume,
tão jovem
sobrou o nome.
chorei
na tristeza
da boca
o sabor
de outrora.
restou
as mãos
trêmulas.
chorei
o pouco
que resta
do amanhã...
a alma
sorriu
a certeza
do renascer
amor...
volte comigo!!!

Linhas traçadas




Não...
Estas mal traçadas linhas
Não são o que deveriam ser,
Um poema,
Preliminar do ato em si;
O desejo,
Assim flagrado
Na sua perfeita nudez,
Entrega toda timidez
sem censura;
O que é certo?
O que é errado?
O sexo com amor?
Ah, sim é poesia;
Tem a eternidade
No último beijo
Deixa saudade
E a vontade
De reviver
O sexo sem amor?
Passageiro...
Nunca lembrado
Satisfaz a carne
Nunca a fome
De felicidade.
Sexo no corpo...
Amor na alma...

Esta noite...




Esta noite irei estender
o tapete da minha boca
ao longo do teu corpo,
Duplicando cada curva,
descobrindo seus medos e segredos,
Percorrendo atalhos e becos
Plantando minhas palavras no seu ouvido
Compondo uma nova melodia na sua pele,
Mil olhos abrirei para ver em todas as direções
E no pulso várias emoções até o amanhecer.
Esta noite vou me embriagar
nas bebidas de tuas bocas
Pendurando por toda a eternidade
na parede vazia de minha mente
este momento
Esquecendo a realidade dando todos os sonhos
Sussurrando todas as cores
Tateando detalhes
todos os amores
em seu corpo estremecido.
Esta noite o inverno vai aquecer
qualquer vontade de você
Esquecendo nos seus abraços o silêncio das horas
esticando na mão de carinho
Procurando no beijo o encanto
O desejo de acordar ao teu lado
Nem que seja só por esta noite.
Esta noite...ah! Esta noite
Quero só existir.
 

Sangria



Teclo muitas palavras sem controle
No tempo exato da perda
Nas frases erradas esquecidas
Como semblante no espelho
Sinto a preguiça do olhar
No momento do beijo.
Busco o singelo em fuga no meio do dia,
Encontro o inverno do mundo.
Pra você não perceber
Troco meus pesadelos
No teu jeito de amar.
Vivo a vida no seu caminho
Faço história nas páginas amarelas da memória
E bebo a sangria doce dos teus lábios
Tropeço na ressaca de palavras
Enquanto bocejo, te amo!!!
As marcas ficam no lençol
Até sumirem nas cores distintas de nós.

Em Brasília dezenove horas.


De repente o vento muda em direção ao Lago Paranoá
Acalma o calor, vira simpatia no início da noite
As árvores tortas se acertam na bela paisagem
Em sintonia com a arquitetura viva intensa
Mensagem de Dom Bosco decodificada
Por JK nunca esquecida
E convicto muda a capital do litoral
O lampião cede lugar as lâmpadas
O cerrado vira cidade, mistura de Brasil
Muitas melodias no céu noturno
Até o relógio começa a nos entender
“Em Brasília dezenove horas.”
Repito Horácio, o poeta romano
“carpe diem quam minimum
credula postero.”*

A certeza se instala no peito
Passo sob a passarela
No perfeito visual o coração massageia
O pensamento de saudade
A descoberta acontece na W3
Amo a secura deste lugar
Onde conheci quem me ama.
Aqui tudo muda sob a sombra de um beijo
Me sinto vivo perto da Torre.



*”Colhe o dia, confia o mínimo no amanhã.“

Esta expressão pode ser encontrada em "Odes" (I,, 11.8) do poeta romano Horácio (65 - 8 AC).